segunda-feira, 2 de abril de 2012

Um Sorriso - Um Amor




Na doçura da tarde calma
Sorria e brincava a criança,
Inocente perante a vida,
Alheia ás suas dores futuras.
Sorria para mim
Com olhos plenos de luz,
Onde o amor era transparente
E as gargalhadas fonte pura!
Insistia em brincar
Ao meu redor,
Chamando-me para a sua alegria.
Era loira como eu já havia sido.
Os olhos claros
Quase se faziam espelhos dos meus.
A sua intensidade de estar viva
Lembro-me bem
De a já ter sentido, sim!
São tantas as semelhanças
Vibrando na lembrança,
Que por um momento penso,
Comovida:
Podia ser minha filha!
Enquanto ela se move
Na sua inpirada dança
De criança,
Eu, contemplo e escrevo.

Existe no sorriso da menina
E neste encontro inesperado
Uma imensa lição de Amor,
Que era urgente eu lembrar.

Súbito,
Uma voz firme a chama,
E ela,
Descontente responde,
Como quem reclama.
Corre ainda para mim
Dá-me um beijo molhado no rosto
E deixa-me no colo
Algumas petalas de flores.

O seu pequenino corpo
Vai sumindo na paisagem.
Vejo-lhe a insinuação
De um beijo atirado ao vento.
Vejo?
- Não sei, pois o coração está apertado
E dos olhos tombam lágrimas.
Andavam tristes os meus dias
Andavam sim!
Mas heis que este mágico encontro
Me fez nascer de novo:
Na memória eterna do sorriso,
Na eterna certeza do Amor.

(aquilo que ás vezes alguns fingem levar de nós, outros trazem, pois o amor jamais parte, apenas se transforma e reparte...)

Teresa Afonso
(pode ser partilhado desde que referido o nome da autora)







Sementes




Lança todos os dias
Uma semente á terra.
Rega-a com o o teu melhor sorriso
Mesmo que estejas triste.
Com o passar do tempo
Terás criado um imenso jardim
Mesmo sem te dares conta -
ASSIM É COM TUDO NA VIDA.

Por isso não te esqueças
Que és um mágico jardineiro
E tanto podes fazer brotar lágrimas
Quando gerar estrelas -
Depende só de ti a escolha,
Mesmo que outros dependam
E beneficiem
Do teu Amor.

Semeia flores,
Irradia carinho,
Descobre o perdão,
Partilha beijos
E terás cumprido a mais bela missão:
Fizeste um pequeno paraiso na Terra
E dentro de imensos corações!

Teresa Afonso
Lisboa, 2 de Abril de 2012 -
Num dia de auto-regeneração interior

(Pode ser reproduzido desde que referido o nome da  autora)






sábado, 31 de março de 2012

AROMA DE MAÇAS



Com o aroma das maças
e das rosas
o amor se fez
e se desfez.
É certo que cheguei a ti
Numa manhã de improvavel certeza.
Fiz-me anunciar com um poema,
Como acontece com os amantes pré-destinados.
Falei-te do aroma das maças
(sem saber porquê)
e tu respondeste:
agora mesmo, eu escrevia um poema que diz assim:
"o amor exala um intenso aroma de maças / onde estás tu, meu amor/ que te sinto tão perto e não te vejo?"
Era eu! Eramos nós!
Depois, veio a estação das rosas.
Do perfume de pitanga.
Erotismo,
Mel escorrendo entre lábios.
Depois,
Os versos e reversos
De um amor inconstante
E intenso.
Veio até o teu inesperado adeus,
A agressão do teu absurdo julgamento.
Mais tarde, meses idos,
o teu pedido de perdão,
O teu extase, a tua (nossa) incontornavel paixão.
Depois,
Os acertos e descertos que todos os amores têm.
Ofereci-te o comando da relação
Mas não soubeste fazer bom uso dessa dádiva.
Mais uma vez,
Julgaste mal e depressa demais.
Queres o meu perdão?
- Não!
Perdoa-te tu, se fores capaz!
Serás?...
... por tudo o que conheço de ti, penso que não!

Teresa Afonso
(direitos reservados)

CARTA A UMA AMIGA DISTANTE...



Querida Paulinha:

Faz hoje dois meses que te separaste de nós. Ascendeste a mais belos e leves lugares, eu sei! Estou feliz por ti, acredita.
Penso em ti muitas vezes, e revejo-te com uma claridade que quase me magoa, pela ausência, pela saudade, pela lição de vida que foste para mim, por tudo o que partilhamos e que afinal não foi suficiente, porque algo faltou, porque eu falhei, Paula.
Naquela noite em que falaste comigo e nem conseguias respirar, porque o cancro te havia invadido os pulmões, em que choravas como uma criança indefesa e desesperada, naquele instante eu deveria ter corrido para perto de ti e ter ficado ao teu lado. Tentei acalmar-te pelo telefone, mas isso foi pouco demais, mas tão pouco mesmo, que hoje, só de me recordar, apetece-me sucumbir no peso do meu remorso.
Fico feliz por saber que, trinta e poucos dias Antes da tua partida, te trouxe ainda á minha casa e á minha mesa, onde de mãos dádas celebramos o meu aniversáro (talvez o último, pois a verdade é que depois de ti não me motiva celebrar mais nenhum).
No dia em que velei o teu corpo, pude ver o teu rosto de paz, a insinuação do sorriso derradeiro que fizeste antes de partir. Sei que foste em paz, como essa eterna criança que afinal eras e querias ser, pressentindo que a tua vida seria breve... sorrias da dor e dos dramas teus, eu sei.
Foste embora numa madrugada de sol já nascente, num dia de luz, apesar do meu coração ter ficado escuro e dorido com a noticia do teu adeus.
Quando fui á florista comprar-te flores, tive que resistir á imensa vontade de chorar. Depois, cumpri um misterioso trajecto, que só tu e eu podemos entender. Deixei flores na porta do predio onde morreste, na clinica onde ambas trabalhamos juntas, aos pés do teu caixão...
Levantar o branco veu que te cobria o rosto foi um gesto simples, beijar-te a testa em jeito de despedida foi uma reverencia merecida, e sei que algures a tua alma sorriu.
A tua morte, no entanto e por ironia, reuniu a data de duas mortes! A tua era já anunciada e foi digna, a outra não, bem pelo contrário. Enquanto alguns semeiam e cultivam dádiva, perdão e redenção, outros queimam tudo ao seu redor.
Após a vinda da capela onde o teu rosto parecia dormir, alguem que eu amava saiu também da minha vida, mas de forma ingloria e cruel.Sobre isso, tu que estás nos altos céus, melhor saberás, e quase ouço a tua doce voz, a sussurrar-me: " deixa, não faz mal"
Estarás tu bem mais certa que eu. Na verdade, não faz mal, apesar de todo o mal que me fez. 
Tu, és suave lembrança, amizade imperdivel, pois não existe morte entre almas afinizadas. Só essa certeza afinal me basta. Pois tudo o que de infeliz e menor e mesquinho convergiu com o dia da tua morte não importa nem deixa boa memória.
Mas tu, querida Amiga, serás sempre honrada, lembrada, celebrada dentro de mim. Nessa data nefasta, tu estarás sempre viva em mim. Tu, apenas!






(In Memorium de Ana Paula Andrade, que deste mundo se separou no dia 31 de Janeiro de 2012. Tinha 43 anos e uma filha de 10 anos, Ana Raquel, com quem partilho este gesto de homenagem e Amor).


Querida Ana Raquel:

talvez um dia leias este texto.
Quero que saibas o que já sabes: foste e serás sempre o grande Amor da tua mãe. Nunca estarás só, pois ela acompanha-te em todos os momentos, para lá de todos nós. Dedico-te a ti as ultimas palavras que ela me escreveu:

" no eterno vai e vem que todos nós somos,
   para sempre a Vida,
   para sempre o Amor"
  

(

Teresa Afonso
(direitos reservados)

Lisboa, 31 de Março de 2012

sexta-feira, 30 de março de 2012

IMERECIDAS MORTES


Neste estranho mundo e seres estranhos que somos, tudo é possivel, até o suposto impossivel.
Vivias só, mas autonoma, com o teu dinheiro e garra. Mas não podias nem deverias estar só, qaundo lutavas intensamente com a vida: o dia, a hora,  a semana possivel.
No serviço de oncologia, repetias um duro ritual: as sessões de quimioterapia, os vomitos em casa, as diarreias, o lindo cabelo que te fez calva, a filha que tiveste que afastar de ti para não sofrer.

Neste estranho mundo e seres estranhos que somos, os amigos fogem e a solidão perdura, quando se anuncia a dor, o sofrimento, a falta, até a eventual morte.

Não sabemos como lidar com as traições, as desistencias, os despresos. Sabemos apenas que temos que viver, mas é exactamente ai, nessse ponto sagrado da traição, que ás vezes desistimos, ou então renascemos.
É certo que a voz da revolta comanda exercitos e vidas. Mas é certo que a rebeldia ás vezes ganha o poder de comandar a vida,acabe ela como acabar. 
A tua acabou numa capela de anjon e num formo crematório, segundo a tua vontade. As cinzas, transportadas no meu carro, seguiram os infinitos horizontes da Arrábia, onde foram derramadas num espontaneo ritual de imenso respeito, silêncio e Amor.
Não tenho palavras para dizer da saudade, do vazio, da memória.
Mas posso dizer, sinceramente:
"depois de tudo
 o que permanece é o Amor"

(que assim seja, sinto e sei que assim será)

Teresa Afonso
(direitos de autoria reservados)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Apenas Nós

 

 

Penso e repenso: a tua existencia em mim, a minha em ti.

Pressinto as lágrimas, as angústias, os questionamentos, mais teus que meus, mas afinal nossos, pois somos inseparáveis...

Penso e repenso, sinto e pressinto o coração fechado, magoado, confuso, dividido. Teu e meu, corações aflitos, guardados em silêncios e mistérios e imperiosas razões que se impõem, que se impuseram.

Foi real a separação, e ambos os corações sabem não existir caminho possivel de volta,

retorno,

pois foi encerrado o Amor!

Apenas eu,

na insonidade das luas e suas luzes,

ouso ainda, ás vezes

só á vezes, 

gritar por ti:

farol que perdeu luz,

amor que escolheu já mais nada ser.

 

Teresa Afonso

(direito reservados)

 

Avelino, o discreto



Avelino é um ser discreto, de poucas palavras, de poucos gestos. É dono de uma pastelaria que costumo frequentar, de forma assidua mas irregular. No entanto ele aprendeu como que a conhecer-me depressa e bem.
Sabe o que vou beber, a mesa que ocupo, ao ar livre, na esplanada de plantas onde sabe que escrevo e possui o dom e a gentileza atenta de acender as luzes da esplanada, quando o entardecer escuresse o lugar, soltário, que ocupo.
Avelino tem um computador portatil na mesa do fundo, tem uma viola que sei qe toca, tem uma relação com o mundo via net, tem a sua tranquilidade e outras imagens de marca, que fazem dele uma pessoa diferente e estimada..
Avelino é um amigo  especial que nunca abracei, porque a postura que impomos a ambos assim nos obriga.
Ás vezes apetecia-me poder abraçá-lo e ouvir as suas dores e pesos do dia a dia, porque sei que os tem! Ás vezes apetecia-me também poder dizer-lhe o quanto estou feliz ou sofrida, porque estou! Mas entre nós existe esse território de separação, esse silêncio cumplice, esse enigma de aparente distancia.
Avelino tem uma familia bonita, uma esposa tranquila, um jovem filho talentoso. Gosto da familia por inteiro, da educação, de tudo.
E gosto dessa esplanada de flores discretas, onde muitas vezes escrevo, como se aquele lindo lugar fosse um pedaço da minha casa e da minha alma literária.

(ao meu querido amigo Avelino, dedico este texto)

Teresa Afonso
Setúbal, 28 de Março de 2012
(direitos de publicação reservados)