sábado, 10 de dezembro de 2011

E a noite sorriu tantas estrelas, que de tão lindas e inteiras, coração não soube tê - las.
Pensou que fossem suas.
 
Priscila Rôde

EU SOU


Sou como uma caravela entregue ao vento.
Busco portos de abrigo, mas também me solto deles, quando sinto que é chegado o momento de partir.
Sou flor, brisa, sonho,
Inpiração, poema,
Letras escritas em vão.
Sou vento, criança,
Caricia,
Invisivel beijo
E MUUUITO mais que isso eu sou.
Quem sou?
Sou silêncio e enigma
Sou fé e devoção.
Sou peregrina do amor,
Jardineira de misticas rosas,
Tola e sonhadora,
... e muito mais
Eu Sou...

QUANDO...




(Para M.)
QUANDO EU ERA CRIANÇA E ESTAVA EM PAZ
O MUNDO INTEIRO ERA PAZ.
QUANDO MAIS TARDE CRESCI E ME DIVIDI
O MUNDO DIVIDIU-SE EM VÁRIOS.
QUANDO DE MADRUGADA CHEGO Á MINHA VARANDA
E RESPIRO FLORES E MARESIAS
O MUNDO É FRESCO E PERFUMADO.
QUANDO CONTEMPLO O NOCTURNO CÉU
E NELE DESENHO ESTRELAS,
O COSMOS CRESCE POR INTEIRO.
QUANDO ME SINTO SÓ E CHORO,
CHOVE TANTO LÁ FORA.
QUANDO!...
QUANDO ME FECHO PARA OS OUTROS
A VIDA POR INTEIRO SE FECHA PARA MIM.
QUANDO ESTOU EM ALEGRIA E DÁDIVA
TODOS ME SORRIEM
ATÉ OS MAIS INFELIZES.
QUANDO ESTOU EM DOÇURA
CESSA A VIOLENCIA
E ATÉ O MARGINAL SE RENDE.
QUANDO!...
QUANDO EU SOU LUZ E ESTOU NA LUZ
SÓ A LUZ PRENCHE TODO O ESPAÇO
AO MEU REDOR.
QUANDO ESTOU EM AMOR
RECEBO AMOR, ATÉ O MAIS INESPERADO,
OU ESPECIALMENTE ESSE.
QUANDO ESTOU FELIZ
O MUNDO ADORMECE E ACORDA
EM DIVINA PAZ.
QUANDO!...
(...E, QUANDO FALO COM DEUS,
TODOS OS RUIDOS CESSAM,
TODOS CONFLITOS,
TODAS AS TOLAS DIVISÕES ACABAM,
MAS AQUILO QUE ELE ME DIZ,
NÃO POSSO PARTILHAR HOJE AQUI)
QUANDO...

Teresa de Jesus Afonso

QUANDO O AMOR DESISTE DE SI MESMO




Quando o amor desiste, então nunca foi amor.
Poderá ter sido paixão, condenada ao efemero.
A nossa vida é muitas vezes ocupada pelo transitorio. Tudo cumpre uma missão, mas é importantente que saibamos definir a grande diferença entre o dito efemero e o eterno.
Paixões são estados emocionais e fisicos de curta duração, mesmo que na nossa memoria afetiva por vezes apareçam, até quando menos se espera. Mas, será que recordar alguém é prova de amor?
Não! muitas vezes é prova de trauma, dissavor, desilusão. E isso em nada é amor, antes pelo contrário.
Amor é lembrança de luz e recuperar paz e bem estar, pela simples memória.
Amor é lutar e estar consciente do valor do laço, do elo, do pacto.
Amar é estar em consciencia!
Por isso o Amor jamais poderá desistir, pois é abandonar a sua propria essencia primordial.
O amor nunca desiste. A humana e fragil natureza é que ás vezes sim.
Muitos são os inimigos, declarados e encobertos, do amor, e daquels que se amam. Estejam atentos,
e rezem todos oe dias pelo vosso Amor.
GRAÇAS A DEUS EU AMO, SOU AMADA, PARTILHO AMOR E SOU FELIZ

POEMA A UM AMOR INVENCÍVEL




Eu sei que estão quase esgotadas as palavras,
meu amor.
Mas não está esgotado o coração.
Palavras ditas, interditas,
Palavras que construiram mundos,
Palavras de poder indestrutivel.
Existiu um tempo mágico
em que parecia que todas as coisas eram nossas,
Mas era mentira.
Podem sucundir as palavras,
derradeiras e mortais,
meu amor.
Mas jamais sucumbirá
O AMOR.
JAMAIS!

AMOR, AQUEM E ALÉM VIDA



(Para M.M. com amor)
Crescem flores do campo em torno da tua sepultura, antes adornada de rosas amarelas e geriberas, como era teu gosto.
A lage simples e lisa finge não te render homenagem, mas é só fingimento, tu e eu o sabemos, e estamos certas nesta cumplicidade de aquem e alem vidas.
Tens a escultura de uma fada e uma borboleta no topo da sepultura, e é sempre na mão da fada que eu deixo a flor, quando te visito. Existe também um fragmento de poema, que o teu marido e meu irmão fez questão de mandar esculpir na pedra, como um grito de eternidade:
"... podem perder-se os amantes
mas o amor nunca se perderá!"
Cada vez acredito mais no poema e no amor, quero que o saibas, estejas tu em que paraiso estiveres. Sabes que, depois de ti, mais nada foi igual ao que era antes: as datas festivas, os aniversários, os natais, tudo!
É certo que continuamos a ser uma famlia, e estamos juntos, mas a tua luz, a tua alegria, esse aconchego que trazias sempre contigo, parece já não estar aqui. Tivemos que revientar a vida, depois de ti. E continuar a viver, apesar do vazio, impossivel de preencher, que deixaste atrás, depois do teu adeus.
É certo que as almas são comunicantes e os amores eternos. É certo que todos nós um dia nos uniremos nesse jardim de pedras e poemas e rosas. É certo que não existe morte, mas apenas sepulturas a marcar a identidade de alguem que partiu.
Na tua invulgar sepultura, não existem flores de plastico nem nada que possa ser artificial. Por isso ali crescem flores do campo, ás vezes papoilas, ás vezes malmequeres... e hoje que fizemos anos fui até lá, e caminhando pelo vasto jardim de cruzes, ouvi a tua voz:
"Nada existe de poetico ou romantico na morte. Mas a morte é a aparencia de todas as ilusões. Estou bem, e amo a todos".
Deixei-me ficar alguns passos para trás, de proposito. Vi o teu marido, solitário, passar o largo portão de ferro do cemiterio. Rosto baixo, cabelo envelhecido. Mas não ia só, pois a luz do teu amor caminhava junto a ele.
Ele esperou por mim, como movido por um pressentimento. Sorrindo, disse-me: senti-a tão perto (tu).
Sorri, entramos no carro, fomos beber um chá a um jardim, ficamos em doce silêncio, e sentimos paz.
Finges dormir num jardim de estatuas e poemas, adornado por fadas e borboletas, onde só a rosa (coração) é real. Tu e eu o sabemos, mas esse é o segredo das almas amorosas e fieis, que por isso transcenderam a fronteira aparente da "morte".
Teresa de Jesus Afonso

NÃO ESPERE POR AMANHÃ



Passamos a vida a adiar.
Adiamos gestos, mensagens, efetos, separações.
Adiamos a nós mesmos e á vida que quer fluir, livre e limpa.
Adiamos decisões, com receio das perdas. Ignoramos o que iremos conquistar, com a coragem de decidir e o medo de perder. Mas, perder o quê?
Adiamos o amor, na espera inutil do tempo certo para o viver. Esquecemos que o amor, quando acontece, já está no seu tempo, e depois dele nada.
Adiamos o convivio dos afetos, o jantar com a familia ou os amigos verdadeiros, porque pensamos que temos todo o tempo do mundo. Não é verdade!
Adiamos os nossos sonhos mais especiais, os projetos, as viagens, as dadivas, as partilhas, os encontros. Mas amanha pode ser tarde demais, e nunca pensamos nisso. Porquê?
Interessante que só os moribundos por fim fazem e refazem a ampulheta do tempo e das vivências, e choram tudo o que deveriam ter feito e dito, mas que adiaram, para um lugar onde já se tornou impossivel refazer o caminho das palavras amorosas adiadas, dos gestos de reconciliação não acontecidos, da dignidade das separações camufladas em uniões já separadas.
Meus queridos, a vida terrena e física é breve. Não adiem o quer que seja. Ouçam o voz do vosso coração e sigam em frente.
Tudo são grãos de areia soltando-se das vossas mãos tremulas e preguiçosas. Não podeis conter os grãos, a areia, a vida. Então, agarrai cada grão enquanto ainda é tempo e saibam fazer dele uma pequena estrela no vosso céu.
Estejam atentos, o tempo do desperdicio cessou. Agarrai o tempo, a urgencia da vida e voces proprios. Sim, porque cada um de vós é um ser urgente, uma vida que clama pela vida, lembrem-se disso.
Tudo o resto, esse manancial de um suposto futuro eterno, é utopia. Todos são responsaveis pelo sentido do aqui e agora. Cumpram a vossa missão, a de hoje, e isso bastará, para já.
Estais preocupados com as vossas vidas futuras quando ainda nem esta assumiram por inteiro???
PENSEM NISSO, SERIAMENTE!
Teresa de Jesus Afonso

APARÊNCIA DE SOLIDÃO



DIZEM-ME QUE CAMINHO SÓ.
QUE ESTOU SÓ.
QUE VIVO SÓ.
Ó OLHOS VAOS
E ESVAZIDOS DE VIDA!
CEGOS OLHOS,
FUTEIS OLHARES.
QUE PENA NÃO SABERES VER
PARA LÁ DA ENGANADORA
APARÊNCIA!
CAMINHO COM O AMOR
E COM DEUS.
POSSO TER INVISIVEIS AMORES,
E DEUS TAMBÉM NÃO SE VÊ
PERANTE FACEIS OLHARES,
É CERTO.
MAS SÓ NÃO ESTOU,
NEM VIVO,
NEM CAMINHO.
APENAS ANDO DE MÃOS DÁDAS
COM O INVISIVEL.

Autora:
Teresa de Jesus Afonso

MEMÓRIAS DE UMA SACERDOTISA




Morgaine fala...
MÃE:
Parto incerta e segura, parto pela urgência mortal de ir, de me transcender, como durante longos anos me ensinaste, duramente, docemente, até cruelmente, como é afinal a necessária aprendizagem de uma sacerdotisa, assim me dizias.
MÃE:
Já perto de mim, abeiram-se as lendárias nevoas do lago sagrado. Relembro o ritual mágico em que várias vezes te contemplei, fascinada e rendida:
Sei que terei que chamar a mim o poder da Deusa, erguer os braços e centrar em mim todas as forças, para assim dissipar as densas nevoas e abrir espaço ao céu, ao sol, para por fim vislumbrar a casa sagrada, minha e tua, onde irreais sacerdotisas erguem melodias de liras, que se espelham nas misteriosas águas.
Quis de mim o estranho destino, ou eu dele, Ser a Ultima, entre tantas a mim Muito Maiores!
Porque me escolheste a mim, aquela que tantos anos se perdeu no mundo das fadas? E se afastou de ti e das suas irmãs, como uma traição? porquê, Mãe?
Deusa Mãe, suplico-te:
Que posso eu fazer com o teu manto sagrado? Com o cálice desprezado do teu ventre imortal?
Grande Mãe, suplico-te:
retira do meu fragil corpo o teu insustentavel manto, oferta a outra, mais virtuosa, o teu cálice.
MÃE! eu te agradeço e sou feliz pelo teu amor, mas não sou merecedora, não estou preparada para separar as trevas que sepram o mundo dos homens do teu divino e invisivel Reino.
MÃE!!!!!!!!!!


(Mas, algo de mágico aconteceu, enquanto Morgaine falava em telepatia com a sua Grã-Sacerdotisa, pois, súbito, ela contemplou um imenso ceu aberto. Mesmo ao longe, o seu coração comoveu-se, pois já lhe era permitido ouvir os melodiosos canticos das sacerdotisas de ilha de Avalon. Em pleno, ergeu os braços e, rasgando a nevoa, sorriu, pois estava de regresso a Casa)
Teresa de Jesus Afonso
 

REFLEXÃO PARTILHADA

Morgaine* Teresa Jesus Afonso

REFLEXÃO PARTILHADA





EU SOU TRANSITÓRIO,
NÃO SOU PERMANENTE.
MAS O PERMANENTE ESTÁ DENTRO DE MIM
COMO ESTÁ EM TODA A GENTE.

Prem Rawat

ANJO MEU



Sempre te senti e pressenti ao meu redor, anjo.
Quando tinha seis anos e estive a morrer, e só Deus saberá porque sobrevivi, tu estavas lá, anjo meu.
Quando aos dezoito anos tive aquele acidente terrivel, inexplicavel, em que sofri duas cirurgias e mais uma vez estive quase a morrer, tu estavas lá, anjo meu. Sobrevivi, desfigurada na beleza doirada e azul da minha juventude, e tu estas lá, anjo meu.
Muitas coisas, entre belas e tragicas, foram acontecendo comigo, e tu sempre estiveste, e estás comigo, anjo meu.
Não sei o teu nome. Ouço ás vezes o som da tua voz eterea, quando me aproximo do sono e dos sonhos. Sinto as tuas asas pratedas beirarem-se de mim, nas madrugadas nascentes.
Sinto o teu abraço e o teu aconchego, nas noites longas em que ás vezes quase adormeço a chorar. Sinto a tua presença esperançosa nos dias em que me levanto, invencivel, para doar amor.
Sei-te comigo, anjo meu, sempre. Foste tu que me ajudaste a ter a sabedoria e a serenidade quando tudo ao meu redor desmoronava. Foste tu que me ensinaste que não existia morte, mas apenas vida transformada. Foste tu que me gritaste para confiar, quando a minha fé nos humanos se havia desvanecido.
Anjo meu: és um abraço materno e patermo. És amor, em estado puro e essência, e eu estou-te infinitamente GRATA.

PORQUE MORREM OS ANJOS?

Era uma criança doce e rebelde. Possuia o raro dom de seduzir, tanto na rebeldia quando na doçura.
Tinha gestos e palavras e olhares por vezes tão inesperados quanto desconcertantes. Corria para o colo dos mendigos. Ajoelhava-se á frente dos alcoolicos, dáva as mãos a toxicodepentes com AIDS, beijava o rosto das prostitutas.
Os animais de rua entrelaçavam-se á frente dos seus pés. Sorria olhando vastos ceus carregados de chuva e profetizava que seria um bom dia.
Com as mãos em concha, acarinhava os tumores, as feridas, as chagas de doentes terminais e moribundos. Adornava os cadaveres e tudo fazia para que fossem velados com respeito e dignidade.
Ao longo da vida, escutou atentamente milhares de histórias, desabafos, lágrimas, segredos. Suavizou prantos, secou lágrimas, improvisou humor e fé, até conseguir inspirar sorrisos nos rostos mais desistentes.
Engoliu, em intensas golfadas, a sua própria vontade de chorar, de desistir, de sucumbir. Perante os outros, era a imagem fiel da alegria, da esperança, porque na verdade era isso em essência e decisão intima.
Aliviou milhentas dores, curou imensos doentes.
Fugia dos elogios, não aparecia nas festas de honra.
Criou inevitaveis odios e invejas, mas até aos falsos amigos se ofertou, numa dadiva inexplicavel, porque tola ou sublime.
Quando os sinais intensos de que a sua vida física se estava a esgotar, rendeu-se ao silêncio. E brincou e sorriu até ao fim.
Teresa Afonso