sábado, 10 de dezembro de 2011

AMOR, AQUEM E ALÉM VIDA



(Para M.M. com amor)
Crescem flores do campo em torno da tua sepultura, antes adornada de rosas amarelas e geriberas, como era teu gosto.
A lage simples e lisa finge não te render homenagem, mas é só fingimento, tu e eu o sabemos, e estamos certas nesta cumplicidade de aquem e alem vidas.
Tens a escultura de uma fada e uma borboleta no topo da sepultura, e é sempre na mão da fada que eu deixo a flor, quando te visito. Existe também um fragmento de poema, que o teu marido e meu irmão fez questão de mandar esculpir na pedra, como um grito de eternidade:
"... podem perder-se os amantes
mas o amor nunca se perderá!"
Cada vez acredito mais no poema e no amor, quero que o saibas, estejas tu em que paraiso estiveres. Sabes que, depois de ti, mais nada foi igual ao que era antes: as datas festivas, os aniversários, os natais, tudo!
É certo que continuamos a ser uma famlia, e estamos juntos, mas a tua luz, a tua alegria, esse aconchego que trazias sempre contigo, parece já não estar aqui. Tivemos que revientar a vida, depois de ti. E continuar a viver, apesar do vazio, impossivel de preencher, que deixaste atrás, depois do teu adeus.
É certo que as almas são comunicantes e os amores eternos. É certo que todos nós um dia nos uniremos nesse jardim de pedras e poemas e rosas. É certo que não existe morte, mas apenas sepulturas a marcar a identidade de alguem que partiu.
Na tua invulgar sepultura, não existem flores de plastico nem nada que possa ser artificial. Por isso ali crescem flores do campo, ás vezes papoilas, ás vezes malmequeres... e hoje que fizemos anos fui até lá, e caminhando pelo vasto jardim de cruzes, ouvi a tua voz:
"Nada existe de poetico ou romantico na morte. Mas a morte é a aparencia de todas as ilusões. Estou bem, e amo a todos".
Deixei-me ficar alguns passos para trás, de proposito. Vi o teu marido, solitário, passar o largo portão de ferro do cemiterio. Rosto baixo, cabelo envelhecido. Mas não ia só, pois a luz do teu amor caminhava junto a ele.
Ele esperou por mim, como movido por um pressentimento. Sorrindo, disse-me: senti-a tão perto (tu).
Sorri, entramos no carro, fomos beber um chá a um jardim, ficamos em doce silêncio, e sentimos paz.
Finges dormir num jardim de estatuas e poemas, adornado por fadas e borboletas, onde só a rosa (coração) é real. Tu e eu o sabemos, mas esse é o segredo das almas amorosas e fieis, que por isso transcenderam a fronteira aparente da "morte".
Teresa de Jesus Afonso

Nenhum comentário:

Postar um comentário