sábado, 10 de dezembro de 2011

MEMÓRIAS DE UMA SACERDOTISA




Morgaine fala...
MÃE:
Parto incerta e segura, parto pela urgência mortal de ir, de me transcender, como durante longos anos me ensinaste, duramente, docemente, até cruelmente, como é afinal a necessária aprendizagem de uma sacerdotisa, assim me dizias.
MÃE:
Já perto de mim, abeiram-se as lendárias nevoas do lago sagrado. Relembro o ritual mágico em que várias vezes te contemplei, fascinada e rendida:
Sei que terei que chamar a mim o poder da Deusa, erguer os braços e centrar em mim todas as forças, para assim dissipar as densas nevoas e abrir espaço ao céu, ao sol, para por fim vislumbrar a casa sagrada, minha e tua, onde irreais sacerdotisas erguem melodias de liras, que se espelham nas misteriosas águas.
Quis de mim o estranho destino, ou eu dele, Ser a Ultima, entre tantas a mim Muito Maiores!
Porque me escolheste a mim, aquela que tantos anos se perdeu no mundo das fadas? E se afastou de ti e das suas irmãs, como uma traição? porquê, Mãe?
Deusa Mãe, suplico-te:
Que posso eu fazer com o teu manto sagrado? Com o cálice desprezado do teu ventre imortal?
Grande Mãe, suplico-te:
retira do meu fragil corpo o teu insustentavel manto, oferta a outra, mais virtuosa, o teu cálice.
MÃE! eu te agradeço e sou feliz pelo teu amor, mas não sou merecedora, não estou preparada para separar as trevas que sepram o mundo dos homens do teu divino e invisivel Reino.
MÃE!!!!!!!!!!


(Mas, algo de mágico aconteceu, enquanto Morgaine falava em telepatia com a sua Grã-Sacerdotisa, pois, súbito, ela contemplou um imenso ceu aberto. Mesmo ao longe, o seu coração comoveu-se, pois já lhe era permitido ouvir os melodiosos canticos das sacerdotisas de ilha de Avalon. Em pleno, ergeu os braços e, rasgando a nevoa, sorriu, pois estava de regresso a Casa)
Teresa de Jesus Afonso
 

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